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A sustentabilidade deixou de ser um conceito abstrato e se tornou um fator essencial para o sucesso empresarial. Empresas que integram práticas sustentáveis não apenas reduzem riscos e custos, mas também aumentam sua relevância no mercado e conquistam consumidores e investidores engajados.
Mas como transformar a sustentabilidade em uma vantagem competitiva real? A resposta está na Criação de Valor Compartilhado (CSV - Creating Shared Value), um conceito que vai além da filantropia e integra impacto social e ambiental ao modelo de negócios.
Se você quer entender como aplicar essa abordagem no seu negócio e ainda gerenciar riscos socioambientais em sua cadeia de valor, continue lendo!
O que é criação de valor compartilhado (CSV)?
O conceito de Criação de Valor Compartilhado foi desenvolvido por Michael Porter e Mark Kramer, e propõe que as empresas devem criar estratégias onde lucro e impacto positivo caminham juntos.
Diferente da Responsabilidade Social Corporativa (CSR) tradicional, que geralmente está separada da estratégia principal da empresa, o CSV incorpora a sustentabilidade ao modelo de negócios, garantindo que as iniciativas ambientais e sociais sejam lucrativas e gerem impacto positivo simultaneamente.
Exemplos práticos de valor compartilhado:
Setor Alimentício: Empresas que trabalham com pequenos produtores para garantir práticas agrícolas sustentáveis, fortalecendo a economia local e garantindo produtos de melhor qualidade. A Nestlé, por exemplo, criou o programa "Nestlé Cocoa Plan" e "Nespresso AAA Sustainable Quality Program", que oferece treinamento, tecnologia e financiamento para agricultores melhorarem suas práticas agrícolas. Graças à esse programa: agricultores aumentaram sua produtividade e renda; a Nestlé garantiu acesso a ingredientes de qualidade superior e fortaleceu sua cadeia de suprimentos; e reduziu o impacto ambiental com práticas agrícolas regenerativas.
Setor Financeiro: Bancos que criam linhas de crédito específicas para negócios sustentáveis, incentivando a transição para uma economia de baixo carbono. O Banco Itaú, por exemplo, por meio de sua iniciativa de Crédito Sustentável, criou linhas de financiamento específicas para empresas que adotam práticas ESG (ambientais, sociais e de governança). Alguns exemplos incluem:
Financiamento para energia solar: pequenas e médias empresas podem acessar crédito com taxas reduzidas para instalar painéis solares e reduzir seu custo energético.
Crédito para negócios sustentáveis: empreendedores que adotam práticas de baixo impacto ambiental podem acessar linhas de crédito diferenciadas para expandir seus negócios.
Incentivo à economia circular: empresas que reciclam materiais ou utilizam insumos sustentáveis podem obter condições especiais para capital de giro e investimentos.
Graças à esse programa: os empresários podem reduzir seus custos operacionais, aumentar sua competitividade no mercado. Há um aumento da utilização de energias renováveis e diminuição da pegada de carbono das empresas. E o banco expande sua base de clientes, fideliza e reduz o risco de inadimplência, pois empresas sustentáveis tendem a ser mais resilientes.
Indústria de Tecnologia: Desenvolvimento de soluções inovadoras que reduzem o desperdício de materiais, melhoram a eficiência energética e minimizam impactos ambientais. A Microsoft desenvolveu um compromisso ambicioso: se tornar carbono negativa até 2030. E ao que tudo indica continua firme em seu propósito, mesmo no segundo mandato da Trump. Isso significa que a empresa pretende reduzir suas emissões de carbono, e, também, remover mais carbono da atmosfera do que emite. Para alcançar esse objetivo, a empresa investiu em diversas ações sustentáveis: Uso de energia 100% renovável para alimentar seus data centers e escritórios; Criação do “Microsoft Climate Innovation Fund”, um fundo de US$ 1 bilhão para financiar tecnologias que removem carbono; captura de carbono e reflorestamento, investindo em projetos ambientais ao redor do mundo; e redução da pegada de carbono de seus fornecedores.
Em resumo: a ideia é a de que quanto mais valor uma empresa gera para a sociedade e o meio ambiente, mais forte se torna no mercado.
Como gerenciar riscos socioambientais na cadeia de valor?
Toda empresa, independentemente do setor, possui uma cadeia de valor – um conjunto de fornecedores, distribuidores, parceiros e processos que garantem o funcionamento do negócio. No entanto, essa cadeia pode representar riscos socioambientais, como:
Impactos Ambientais:
Emissões de carbono e poluição
Desmatamento e perda da biodiversidade
Consumo excessivo de recursos naturais
Impactos Sociais:
Trabalho infantil ou análogo à escravidão
Condições precárias de trabalho
Violações de direitos humanos
Para evitar esses problemas e garantir que a sustentabilidade seja aplicada de ponta a ponta, as empresas precisam monitorar e gerir sua cadeia de valor com responsabilidade.
Passos práticos para gerenciar riscos socioambientais:
Mapeie sua cadeia de suprimentos: Saiba de onde vêm seus insumos, quem são seus fornecedores e quais práticas eles adotam.
Exija certificações ESG: Trabalhe apenas com parceiros que possuam certificações reconhecidas e estejam alinhados às melhores práticas ambientais e sociais.
Adote critérios de compras sustentáveis: Dê prioridade a fornecedores que utilizam energia limpa, materiais recicláveis e práticas justas de trabalho.
Monitore e audite regularmente: Não basta confiar em declarações; implemente auditorias e ferramentas de rastreamento para garantir a conformidade ESG.
Eduque e engaje seus parceiros: Fornecedores e distribuidores também precisam entender a importância da sustentabilidade e como podem contribuir.
Exemplo Real: Caso Zara
Em 2011, uma fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) encontrou trabalhadores em condições análogas à escravidão em oficinas que forneciam produtos para a Zara em São Paulo. Os trabalhadores, em sua maioria imigrantes bolivianos e peruanos, eram submetidos a jornadas exaustivas, recebiam salários irrisórios e viviam em condições precárias.
Consequências para a Zara:
Danos à reputação: A divulgação do caso gerou ampla repercussão negativa na mídia e entre consumidores, afetando a imagem da marca no país.
Ações legais e multas: A empresa enfrentou processos judiciais e foi multada por não assegurar condições dignas de trabalho em sua cadeia de fornecimento.
Pressão por mudanças: A Zara foi pressionada a revisar suas práticas de auditoria e monitoramento de fornecedores para garantir o cumprimento das normas trabalhistas e de direitos humanos.
Lições Aprendidas:
Este caso destaca a importância de as empresas monitorarem rigorosamente suas cadeias de fornecimento para assegurar que todos os parceiros comerciais adotem práticas sustentáveis e éticas. A falta de diligência nesse aspecto pode resultar em danos significativos à reputação, perdas financeiras e consequências legais.
Portanto, é crucial que as empresas implementem políticas de due diligence e realizem auditorias regulares em seus fornecedores para identificar e mitigar riscos socioambientais, garantindo a sustentabilidade e a responsabilidade social em toda a cadeia produtiva.
Conclusão: como as empresas podem liderar essa transformação?
Torne a sustentabilidade um pilar estratégico do negócio.
Crie valor compartilhado, onde lucro e impacto positivo coexistem.
Gerencie ativamente os riscos socioambientais na sua cadeia de valor.
As empresas que adotam essa visão se tornam mais resilientes, inovadoras e lucrativas no longo prazo. O futuro dos negócios está diretamente ligado à capacidade de criar impacto positivo para o planeta e para as pessoas.
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